A constante e crescente busca dos consumidores pelo biológico e pelo natural tem vindo a espalhar-se por toda a indústria alimentar e a indústria do vinho não está a passar ao lado desta tendência.
Hoje em dia, são muitas as denominaçõesque os consumidores vêem nos rótulos, vinhos biológicos, biodinâmicos, naturais, etc..
É o último conceito que tem vindo a gerar mais discórdia entre os especialistas e apreciadores de vinho. Talvez pela falta de legislação, este conceito tem sido alvo de muitas definições e interpretações, não existindo, ainda, um consenso do que é considerado um vinho natural.
De um ponto de vista geral, um vinho natural assenta na ideia de deixar a natureza e o terroir da vinha expressar-se ao máximo no perfil final do vinho. Neste conceito, a intervenção humana é mínima ou até mesmo inexistente, é a natureza que comanda, tanto na vinha como na adega. Na vinha recorre-se à agricultura biológica ou à agricultura biodinâmica e à vindima manual. Na adega não é permitida a utilização de correctivos, como o ácido tartárico, ou de facilitadores, como a adição de nutrientes, para que a fermentação ocorra sem interrupções ou percalços. A fermentação deve ocorrer de forma espontânea e apenas graças à presenta de leveduras autóctones da uva.
Alguns defensores mais flexíveis permitem que seja adicionada uma pequena quantidade de sulfuroso (o que posteriormente irá formar os famosos sulfitos) na altura do engarrafamento.
Graças a estas especificações no processo de vinificação, os vinhos naturais são caracterizados pela sua inconsistência de ano para ano ou até mesmo de garrafa para garrafa, pois o vinho é um organismo vivo e envelhece de forma diferente em cada garrafa.
Sempre se ouviu dizer que as modas são cíclicas, mas nunca se associou essa expressão ao vinho, até agora. A verdade é que o que foi feito e praticado no passado nesta indústria está a voltar a ser uma realidade.
Beatriz Palhais, enóloga PMC